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Pêra Marques Loureiro

Todos quantos sentem vibrar a alma em fremitos de enthusiasmo ante uma flôr explendida ou um vegetal de formas raras, se embriagam com o perfume suavissimo das mais bellas filhas dos tropicos e deliciam o paladar com os mais finos e saborosos fructos, deviam erguer uma estatua d’ouro a José Marques Loureiro, o mais notavel horticultor portuguez, a quem podem afoutamente dizer que devem tudo quanto faz a alegria dos jardins e a riqueza e opulencia das hortas e dos pomares. Com uma pertinancia admiravel, enthusiasta e infatigavelmente, em um honrado labutar de trinta annos, Marques Loureiro enriqueceu o paiz com o que de melhor e mais precioso havia no estrangeiro em plantas bôas e vegetaes raros, á custa, muitas vezes de sacrificios enormes, de largos e incomprehendidos dissabores.
Marques Loureiro nunca foi um negociante na verdadeira e interesseira accepção da palavra, mas sim um apaixonado sincero por todas as maravilhosas riquezas do mundo vegetal, as suas delicias de outr’ora, os seus amores d’hoje e de sempre.1

Por mais de uma vez se recusou a vender por bom preço plantas raras a que ligava particular estima, vendo-se ainda hoje nas opulentas estufas da Companhia Horticolo-Agricola, successora do Horto Loureiro, um valiosissimo Neottopteris nidus avis, que o finado rei D. Luiz a todo o custo quiz comprar, e que Marques Loureiro não vendeu ao monarcha, dizendo que se o rei tinha prazer em possuir o explenduroso feto, tambem com elle Marques Loureiro, se dava o mesmo e por isso não o cedia por preço algum.
Isto pinta fielmente Marques Loureiro, cavalheiroso e honrado como poucos, e que hoje deve estar ufano e alegre por vêr a pomologia portugueza opulentada com mais um fructo novo devido ao trabalho e aos esforços do grande horticultor portuguez, a Pera Marques Loureiro (Fig.) assim justa e dignamente baptisada por o snr. Jeronymo Monteiro da Costa, que se refere da seguinte fórma ao novo e precioso fructo:

Pêra Marques Loureiro
Pêra Marques Loureiro.

«As novas variedades só se podem obter por meio da sementeira, cercando as novas plantas de uma série de cuidados, e collocando-as, por assim dizer, em um meio artificial, de modo a contrariar as tendencias da natureza para a reversão ao typo primitivo.
É isto o que tem feito lá fóra os grandes pomologistas para obterem as variedades de fructos que hoje se encontram nos mercados, algumas d’ellas tão geralmente apreciadas.
Para se conseguir, porém bom resultado e necessario um trabalho constante durante muitos annos, e a maior parte das vezes, ao fim de longas fadigas, o horticultor encontra apenas uma desillusão: o novo vegetal não apresenta as qualidades almejadas, e quando muito é bom para servir de cavallo, mas, se porventura, uma só das plantas preenche as suas justas aspirações, se reune qualidades que a tornem apreciada, constituindo uma variedade nova, não é facil tambem imaginar-se a satisfação do horticultor por vêr coroado de bom exito o seu trabalho e por ler contribuido para augmentar o numero das boas variedades.
Esta satisfação acaba de ter o nosso notavel horticultor o snr. José Marques Loureiro, que, no fim de 12 annos de trabalho e cuidados, conseguiu vêr fructificar em 1892 uma pereira que tinha sido semeada em 1880 e cujos fructos magnificos, reuniam as qualidades de uma variedade de primeira ordem.
A semente que a produziu era proveniente da Pera de Congrès Pomologique.
A nova variedade, a que se deu o nome de Pera Marques Loureiro, em homenagem ao seu obtentor, foi lançada este anno pela primeira vez no mercado pela Companhia Horticolo-Agricola, hoje proprietaria do antigo Horto Loureiro.
A Pera Marques Loureiro é um fructo de tamanho regular, acima do mediano, de fórma turbinado-arredondada; pedunculo comprido, delgado, recurvo e implantodo em uma cavidade pouco profunda; pelle lisa, amarellada. A sua polpa e branca amarellada, finissima e completamente isenta de pedras até á pevide, muito fundente, succosa, amanteigada, assucarada e dotada de perfume muito agradavel. Finalmente, é uma pera de primeira qualidade, que se recommenda a todos os amadores de bons fructos.
Amadurece em Setembro, e a arvore é vigorosa e muito fertil.»
A Marques Loureiro as nossas felicitações sinceras pela sua preciosa obtenção, sem duvida alguma a mais valiosa da resumida pomologia nacional.

  1. Foi mantida a grafia da época. Estou muito interessado em saber se este fruto ainda existe hoje. Agradeço qualquer informação. []

Afastar insectos das frutíferas

Mr. Denis, director da Eschola de Arboricultura do parque da Tête-d’Or, em Lyon, acaba de descobrir um meio de afastar das árvores fructiferas os insectos, que, na epocha da floração, perfuram o ovario das flores, para n’elle deporem os seus ovos.
O meio a que Mr. Denis allude consiste em borrifar as arvores, no momento em que as flores estão a desabrochar, com um liquido composto de agua e vinagre na proporção de 1 litro deste para 2 d’aquella.

Oliveira Junior, José Duarte de. Chronica Horticolo-Agricola”. Jornal de Horticultura Pratica. Maio de 1873. Vol. IV: 213-220

Borra de café na horticultura

A borra de café é uma excelente fonte de nitrogénio (azoto) e pode ser utilizada directamente em volta das plantas, principalmente vegetais de crescimento rápido. Também se pode misturar na terra dos canteiros ou dos vasos novos. Para conseguirmos um líquido fertilizante, basta diluir umas 100-150 gramas de borra em dez litros de água. Em alternativa, pode-se compostar, o que vai adicionar nitrogénio à pilha.
Como se não bastasse, certas pragas não gostam de café (cafeína para ser exacto), entre elas os caracóis e lesmas. Uma solução muito concentrada de cafeína — 1 a 2%, mata 60% ou 95% dos caracóis e lesmas respectivamente (um café expresso tem cerca de 0,1% de cafeína). A borra não mata, mas actua como repelente.1
A borra de café é bastante ácida, dependendo do seu tipo de solo, pode ter que contrariar esta questão, por exemplo com cinza, folhas ou serrim.

(Publicado originalmente no blogue Quinta do Sargaçal.)
  1. Na minha experiência no entanto, os resultados como repelente são bastantes medíocres. []

Remédio para combater a ferrugem e as manchas castanhas das folhas

A ferrugem, doença que ataca um grande número de plantas e que se manifesta por manchas circulares que aparecem nas folhas, e muitas vezes se tornam confluentes, fazendo-as secar; as manchas castanhas que aparecem nas folhas e são produzidas por um cogumelo1 Uromyces, cujo micélio desorganiza os tecidos parenquimatosos, combatem-se bem, tratando as plantas preventivamente, seringando-as uma vez por semana com uma calda de sulfato de cobre, preparada da maneira seguinte:

  • 100 litros de água
  • 1 quilo de sulfato de cobre
  • 2 quilos de cal extinta
  • 1 quilo de açucar

Jornal Horticolo-Agricola, Julho de 1905

  1. Se fosse hoje dir-se-ia “fungo”. Outras palavras grafei e actualizei para a actualidade. []